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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dominique Strauss - Similitudinário de Renato Seabra

Eles estavam ambos próximos do topo. Tão próximos, que agora até já pernoitam no mesmo estabelecimento – Rikers Island.

O estabelecimento fica numa ilha no meio do rio East, entre Queens e o Bronx, e é o maior complexo prisional de Nova Iorque: tem 14 mil presos, 7 mil guardas e 1500 civis. Uma proporção de 1 guarda prisional para cada 2 hóspedes do estabelecimento – um verdadeiro luxo, com serviços completos, um verdadeiro resort no centro de NY.

As similaridades entre esta parelha são imensas. Ambos estão habituados a suites de 2000$, embora um prefira o Intercontinental e o outro o Sofitel. Os dois usam e abusam de objectos pontiagudos e curiosamente apontam ambos aos olhos.

Não hesitam em usar a violência para atingir os seus objectivos. Dizem os diagnósticos dos peritos, que sofrem ambos de ‘patologias’:
"Perturbação da personalidade", "vício do sexo" e "descompensação psicótica”.
No outro extremo do espectro, poderá até tratar-se de uma "sobreinterpretação dos gestos da vítima numa situação ambígua".

Quer isto dizer que, de acordo com os diagnósticos psiquiátricos, quer no caso de Carlitos, quer no caso da Guineense de 32 anos alegadamente abusada por Dominique (apelido pelo qual Carlitos curiosamente, também respondia na intimidade) pode ter havido um gesto, uma inclinação, um olhar fortuito que fez despoletar a tal patologia.

Esta ‘junta’ que é interveniente nos 2 mais alardeados sex-scandals nova-yorquinos, apenas sucumbiu aquilo que qualquer um de nós mortais está igualmente sujeito.

Por exemplo, uma libidinosa inclinação de uma colega a recarregar papel na gaveta inferior da fotocopiadora, pode despoletar uma “sobreinterpretação do gesto numa situação ambígua” capaz de gerar como reação a alguma "descompensação psicótica" uma valente 'chapada nas trombas'...

Claro que se a situação incluir uma cama e um hotel de luxo, a possibilidade de sobreinterpretação excede em muito a capacidade de resistência patológica.

Enfim, um estava a caminho do estrelato no mundo da moda acolitado por um guru conhecido pelos seus gestos profundamente ambíguos, ao passo que o outro conhecido pelos seus juros ambíguos estava já lançado como director do FMI a caminho de uma promissora carreira como Presidente Francês.

Consola o facto de se saber, que apesar da descompensação a que ambos foram sujeitos, tiveram o sangue-frio de se lavarem, vestirem e abandonarem os hotéis onde foram vítimas das respectivas “sobreinterpretações”.

Pensar profundamente nisto, inflige no comum dos mortais um sentimento de pena, dó e no caso dos mais sensíveis até compaixão – coitaditos. No meu caso particular entristece-me o facto de ambos estarem segregados da restante população do referido estabelecimento.

Considero mesmo que essa decisão é uma discriminação inexplicável, que retira a ambos, a possibilidade duma integração profunda, na comunidade em que estão inseridos. Estou mesmo convencido que entre os outros 13998 residentes, decerto alguns haveria, capazes de voluntariamente lhe “sobreinterpertar algum gesto resultante de alguma situação mais ambígua” fosse no duche ou no remanso da suite de 3x4.

Era da maneira que ficavam com a “descompensação psicótica” de tal maneira corrigida, que tão depressa não voltariam a sentar-se para contemplar “sobreinterpertações de ambiguidades”.



http://publico.pt/1507874


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